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TRAJETÓRIAS PARA O REAL
Apresenta
ODE AOS SÓIS
Por Feller-Huhtala
Não, nem tudo a ciência explica. Não, nem tudo os sentidos alertam. Muda-se a cada instante e ísso nem a ciência, nem as matérias astrais podem nos avisar a tempo. É um acúmulo que não se encontra, que não se percebe até que transborde.
Pode-se acreditar que o plasma, tão lindo vento solar nos sopraria uma mensagem, uma alusão para nos lembrar que a conexão entre celeste e terrestre não é inequívoca ou constante - que seria constante senão o próprio instante que não prevemos? E é justamente nele que a aurora boreal se forma, não há como esperar, prever e tampouco servirá ansiar por sua chegada. Mas um momento ela aparece, e justamente quando não mais esperávamos! Ela vem, sem alertar sobre as cores da pele, sem dizer altura, cor do cabelo ou a dimensão da paleta que se transporia no céu.
A alegria da sua chegada, prévia de sua prostrada saída, pode soar como encruzilhada para uma aparente contradição. Bendizemos sua chegada, bendizemos sua partida, que “Deus acompanhe”, diria aquela tia. Afinal, ainda que sem saber como, ela voltará, num inverno qualquer, entre os meses de fevereiro a outubro, com alguma interpolação. Até lá, haveria opções de vivê-la em distintos universos, presentes, passados e futuros, sem ou com possibilidades de encontros geograficamente definidos em um único plano. Ou, mais simples, mas não tenho certeza, apenas ao olhar para cima. Olhar para os céus e seus, nossos, sóis internos, para resgatarmos a nós de lá, a ela de lá, para compor o plano deste instante, não previsto - dependerá do céu nossa voz e resposta. A canção do dia, da semana.
Neste olhar, um céu compartido pode nos oferecer um caminho, lembrar que podemos nos dividir, mas também nos mantermos inteiro, continuarmos com a saga de sermos múltiplos em unidade. O sol é pai do plasma, não, ele é mais, é pai e mãe e tio e avós e toda raiz fundamental da Via Láctea e parece, para choque de alguns, não se importar em ser visto compartido, parece aceitar esse olhar, por um instante, pelo problema da câmera de um celular que insiste em incluir geometrias em si.
Posso até ouvi-lo falar: “Eu dou origem a tudo, eu ofereço os ventos, eu ofereço calor, eu ofereço energia. Crio a aurora. Me DIVIDO”, aqui em letras garrafais, para que não restem dúvidas. Se numa metáfora, ou mera inspiração, aceitássemos igualmente nos dividir, enxergar nossos campos em separado e mesmo assim sabermos olhar para ele e nos mantermos em unidade, espalhadas por campos separados, teríamos mais força ou debilidade? A exemplo do sol, poderíamos manter a nós mesmos, algo que se compartilha, expande e transforma, gerando algo que não podemos prever, mas que pode ser mais do que seríamos permanecendo em unidade. Afinal, 6 é mais que 3, é o dobro.
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