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TRAJETÓRIAS PARA O REAL
APRESENTA
Plumas celestes
Por Feller
Haviam-se passado dez luas e poucos sóis desde que começara a sentir. Sim, o mesmo odor amargo nos sonhos lhe retornava. Quando chamara, outro rosto aparecia - mesma cena, outros atores. A resposta, porém, ainda não estava clara, tantas mensagens em breves segundos que não conseguia encontrar tradução. Conversa, discute, busca a memória para parceria, mas ela também é confusa - insiste em suas próprias interpretações. O que é real?
Sim, mesmo dentre tantos céus, essa pergunta permanece em suspenso. Tentava encontrar sentido, conectar teorias e lembranças para alcançar algum significado naquilo tudo. O desejo aparecia, a guarda lhe baixava e não havia onda que deixasse de quebrar em seu mar. Aqui, sim, a reconhece, a muito navegara sobre aquele céu, naquelas mesmas palavras.
Ousa retornar, buscar em faces esquecidas o olhar, mas, apenas a raiva se apresenta e quanto mais a ela recorre, mais nela se esvai. Onde será seu mar? Tanto rio, tanto rio, cada vez mais longe do mar. Enxergava muitas ondas naquele princípio de universo, desvanecera-se entre os encantos somente para perceber, tardiamente, que ali nada era real. Todo rio se cala frente ao mar, toda onda morre entre grãos. Quanto lamento em tanto pranto. Sim, isso ela consegue sentir.
Vislumbra alguma saída, procura secar. Infeliz escolha, lá, apenas mais mar e mais rio e mais lágrimas encontrara. Algum sentimento? Não, não, não se ilude, somente os mesmos afãs saudosistas de um passado esquecido, morto desde sua origem: “o mesmo breu a cobrir seus sonhos”, alguém a lembra. Recorre as estrelas, algumas lhe cantam promessas. É suficiente para adormecer. Apaga, acorda. Apenas céu quer ser. Apenas céu, assim, desses de plumas celestes que aquecem as águas, evaporam os rios e nos deixam o sal na pele - doce lembrança.
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