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TRAJETÓRIAS PARA O REAL
APRESENTA



Dos olhos de mar


Por Feller
                                  - Você já sentiu essa vontade de chorar?
 
                                   Não, não assim, pelo menos. Já sabia que palavras não bastavam para ela, era esperado. Não conseguia decifrar o que via em si. Era distinto, longe de ser triste, flertando com o assustador –sim, tesão, é possível. O sentimento que lhe causava isso tudo ela pouco reconhecia, tampouco conseguia controlar. Como tirá-lo dali? Não posso, mas também não quero. Dizem que é aqui que acontece.
 
                                 Dias atrás fora confrontada com a parte menos nobre desse movimento, ‘tão pequeno esse comportamento’, havia de confiar, ‘sempre confiar em si, como esquecera que o sentir era seu reino? ’, ela recorda nitidamente. Afinal, se chegava assim, gratuito, leve, sem qualquer esforço, porque questionar? Esperava por respostas dos céus, da lua, do sol. Quantos alinhamentos adviriam de vir para que ela se convencesse? Não sabe, lembra que é pessoa sem respostas, ‘o tempo a deve ter’, resta aguardar.
 
                              Quando acordou desse sonho confuso, o sol ameaçava voltar. Aguardaria? Deveria voltar ao oráculo da noite na tentativa de alguma resposta? Donde ela viria? Beira uma ansiedade, mas boa, ‘estava bom até ali, havia colocado a casa em ordem’, ela lembra. Decidiu por voltar à cama, sim, os sonhos trariam algum alento, ela esperava. Não trouxeram, vieram apenas com novas partidas e chegadas, ir para um hotel? Contigo? Não, não, para que te acompanharia para o hotel? Qual a função desse hotel? Dar tempo para organizar novamente a casa? Ela não sabia, apenas atende à ligação.
 
                              No outro lado, a voz é taxativa: ‘não, não, não se pode aguardar, a hora é agora, se deixarmos para amanhã, perdemos’. Havia ainda mais essa, mais uma decisão. Para onde ir? Desiste do sonho, acorda sobressaltada, a garganta seca, os olhos confusos dessas tantas vozes que queriam lhe tirar uma decisão. Mas, ela já havia decido não decidir, não é mesmo? Que vão para os infernos, não quer saber deles, agradece ter acordado antes do veredito final, não gosta de qualquer pressão sobre seu recente chegado. Demorara tanto aprendendo a sentir, como querem a fazer pensar? Não, não, que a resposta venha com a ginástica do dia, cada endorfina e decepção a seu tempo, não pretende antecipar qualquer delas.
 
                            Corre para a janela, sim, já é dia. Respira aliviada, um sorriso lhe brinda a boca, os olhos se tornam mar, quer chorar. Que felicidade é essa? Não sabe, apenas sente que com ele as coisas ficam sempre melhores, mais claras e quentes - um café pela manhã ajuda a começar o dia, outro sorriso lhe escapa. Sabe também que não dura muito, mas não reclama, acordar tarde também tem suas vantagens, apenas menos tempo com ele. A constatação a entristece um pouco, logo terei de me despedir, restará a saudade, a paz de ter podido entregar-se.
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