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TRAJETÓRIAS PARA O REAL
APRESENTA



Gustavo Mahler



 
                                   - Olá, Gustavo Mahler, muito prazer.

                                  Sim, lembra com nitidez da cena, este era seu nome, ainda que hoje reste apenas como única letra. Aliás, já tivera inúmeros nomes, de referenciais geográficos a outros menos confessáveis, todos os levando ao mesmo lugar, percorrendo aquele caminho que altera definitivamente a trajetória, 'o acaso é rei'.

                              Questiona agora a razão disso, será necessidade de conduzir seus personagens de forma que se tornem palatáveis ou a legítima necessidade de materializá-los para si? Não sabe bem, é pessoa sem respostas, mas, respostas conclusivas são meros hologramas, não é verdade? Compreende que enxerga em cada um deles uma porção de seu passado, a partir deles reescrevera seus dias, precisava de tais testemunhas para conduzir o fio que a levaria ao seu real, esta era a esperança, ademais. Sabia-se antagônica a cada um deles e, talvez por isso, lhes ajudassem a entender sua própria trajetória. Não era esse o objetivo? Sim, sempre fora, mas, admite, avançava muito pouco para onde desejava, entende tão somente o benefício de poder ver-se tão bem, a dicotomia os delineiam com a nitidez das curvas de um corpo, mesmo já esquecido.

                          - Sim, sim, eu estou aqui.

                           Na cadeira, donde permanecera frente a tela em branco, percebe que nada acontecia, na contramão do universo que se desenvolvia para além de si. Seria esse cheiro da madeira recém talhada, ainda exalando o suor da mão dura que a esculpira, que a mantivera em suspenso? Sim, com certeza, esse perfume a levava para tantos lugares que, as também tantas sensações, só lhe conduziam cada vez mais para dentro, o som que a persegue não atenta para o fato, inconteste e irreversível, de que a aparente espontaneidade era mera máscara, disfarçava apenas a imensidão de seu sentir. É belo, alguém lhe havia dito.

                            - Sim, sim, eu ainda estou aqui.

                       A voz lhe sai embaralhada, transparecendo a luta que significava sair daquele lugar, abandonando suas inúmeras companhias, afinal, jamais se encontrava sozinha. Consigo sempre levava cada um dos infinitos personagens que criava, mas, ressaltemos, não era mera esquizofrenia. Ela os conhecia muito bem, havia discorrido sobre cada um deles, devorando com imenso prazer cada trejeito disfarçado, olhar obtuso ou tatuagem que os delatavam. Dentro de si apenas ganhavam as vozes que sabe que eles jamais arriscar-se-iam a confessar.

                              Parece não haver necessidade de entregar seus companheiros, uma hora eles estariam prontos, ou não? Não lhe cabe avaliar, apenas sabe que a nuvem lhe traz na palma da mão um luar em que haveriam de desnudar-se. Ela aguarda a cheia, e na companhia deles.

                                                                                                                                                                                                                       Por Feller.
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